Professor ainda destaca sobre desafios enfrentados no setor elétrico e propõe alternativas sustentáveis para solucionar o problema
13/11/2024
Redação Alba Energia
Nas últimas semanas temos acompanhado de perto o aumento no número de apagões no país, principalmente na capital paulista. De acordo com o Instituto DataFolha, 34% dos paulistanos ficaram sem energia no temporal que aconteceu no dia 11 de outubro, causando prejuízos com alimentos, aparelhos domésticos e perdas de medicamentos. As fortes chuvas também causaram R$1,65 bilhão em prejuízos ao varejo e aos serviços da cidade, segundo o FECOMERCIO-SP.
Diante desses fatos, convidamos o professor Emerson Martim, que atua como coordenador do curso de engenharia de energias renováveis da PUC-PR, para um bate-papo sobre o aumento do número de apagões e as melhores alternativas para solucioná-los.
Quais são as principais causas que provocam um apagão em um município?
Professor Emerson: Quedas de árvores sobre a rede elétrica, causadas por vendavais que têm se intensificado nos últimos anos em função das mudanças climáticas. Essas manifestações do clima derrubam principalmente árvores velhas, altas e doentes. Como exemplo, a cidade de São Paulo, com bairros antigos que possuem árvores com mais de 50 anos, de grande porte e incompatíveis com a realidade de distribuição de eletricidade. A cidade foi crescendo e recebendo cada vez mais rede elétrica, essas que poderiam ter sido colocadas no subsolo há muitos anos e que hoje se tornaram um grande problema para o município.
De acordo com o DataFolha, 70% dos paulistanos afetados pelos apagões consideraram a distribuidora de energia da cidade de São Paulo como principal responsável. Afinal de quem é a culpa?
Professor Emerson: A culpa não pode ser atribuída somente às companhias de eletricidade. O que vem ocorrendo é consequência de vários fatores, que somados, têm causado estes problemas em uma escala cada vez maior. Atribui-se aqui à falta de planejamento das cidades nas últimas décadas; ao desmatamento desenfreado ocorrido no século passado e ao aumento exponencial de emissão de gases de efeito estufa à atmosfera, que tem ocasionado mudanças climáticas significativas.
Os apagões no Brasil mostram como o setor elétrico ainda é dependente de hidrelétricas, da infraestrutura de transmissão e da necessidade de investimentos contínuos. Quais estudos estão sendo desenvolvidos pelo país para mitigar essa situação?
Professor Emerson: Atualmente os riscos de apagões são minimizados com as termoelétricas que trabalham em stand by, consumindo pouco combustível. Elas são acionadas com maior potência, em função de solicitações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que sabe exatamente em qual área precisa de mais energia em um determinado momento. Essa manobra de colocar mais potência para as termoelétricas suprirem, podem levar alguns minutos e não ser o suficiente para atender picos de energia que podem causar o desligamento do sistema elétrico.
O governo vem pleiteando para 2025 a contratação de serviços de bancos de baterias, que são muito eficientes para cobrir picos de consumo de energia de pouca duração. Elas darão tempo para as termoelétricas entrarem com potência máxima, ou até mesmo as hidroelétricas reagirem à essas perturbações.
Outra forma de armazenar energia, que está cada vez mais próxima de ser tornar exequível no Brasil, é através da geração e armazenamento de Hidrogênio Verde, produzido nos parques solares e eólicos.
Quais são os principais desafios enfrentados pelo modelo de privatização atual de energia elétrica e como mudar esse cenário?
Professor Emerson: O modelo de privatização deve ser revisto, sugerindo-se acrescentar como responsabilidade das concessionárias a gestão pelos cuidados das árvores próximas à rede elétrica, promovendo a poda, substituição e, em caso de queda, a sua rápida remoção. É claro que, essa nova atribuição às concessionárias de energia, precisaria de alteração na legislação e readequação nas tarifas.
Quais são as alternativas que os consumidores de energia elétrica podem fazer para não ficarem reféns dos apagões?
Professor Emerson: Posso citar algumas opções que são oferecidas no mercado, como geradores estacionários, alimentados com diesel ou gasolina, com potências que podem chegar a 400kWh, neste caso com fonte não renovável e com emissão de CO2. Temos também os sistemas fotovoltaicos híbridos que utilizam bancos de baterias podendo fornecer 6kWh a cada 30 m2 de cobertura solar, onde o tempo de fornecimento de energia durante à noite, está diretamente ligado ao consumo instalado. Eles podem ser utilizados em comércios e condomínios para manter principalmente sistemas de refrigeração, bomba d´água e elevadores em operação.
Emerson Martim é professor titular e coordenador do curso de especialização em engenharia de energias renováveis da PUCPR. Também é conselheiro no CRQ – IX. Tem experiência na área de ensino, atuando principalmente nos seguintes temas: ensino na graduação em engenharia química, energias renováveis, modelagem de processos
*Contribuiu para esta entrevista o professor José Carlos Armelin, que atua no curso de engenharia das energias renováveis da PUCPR
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